Faleceu Fiama Hasse Pais Brandão

Nasceu em 1938, em Lisboa. Poetisa, dramaturga, ficcionista e ensaísta, revelou-se no famoso movimento de 61 (assim como Gastão Cruz), como uma das revolucionadoras da linguagem poética nacional.
Com uma escrita comprometida com o erguer de uma nova nação, nunca descurando o seu passado marítimo, Fiama terá, a par de Sophia, sido uma das melhores poetisas portuguesas do século XX português. Contudo, os elogios à sua obra nunca foram consensuais, tendo mesmo muitos críticos dentro dos meios universitários.
Faleceu na passada sexta-feira aos 69 anos em Lisboa.


Sei que o cérebro o coração e o ventre
são uma só forma. O mesmo ponto claro
no alcatrão profundo da abóbada.
Que o cérebro murmura
como o estorninho que devora a verdura
que se estende diante dos olhos.

O ventre, esse, pernoita e imita-o
ao som do ritmo do coração
que digere os vegetais túrgidos
a que pude aconchegar os lábios.
Nada mais bascula no tecto
onde um vapor prende os intervalos.

Costelas, harpa da noite, com um som
de osso cristalino em que não toco
senão quando o cadáver se desenvolver
deste corpo ornamentado por flores frescas.
Assim um tronco esvaziado
pelo formigueiro por vezes confunde-se
com o meu cérebro, o coração e o ventre.

O luar eterniza-se como fundo
deste pensamento acerca das formas.
É uma pequena cabeça de formiga,
tão negra que a agradeço aos mestres clássicos
pelo negrume descrito nas cosmogonias.



Livros de Fiama disponíveis na Biblioteca:

O labirinto Camoniano e outros labirintos 82.09 BRN

Novas Visões do Passado 82 LP-1 BRN

Falar sobre o Falado 82 LP-4 BRN


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