Poema da Semana

Há pensamentos que deveriam culminar
num gesto da sua própria substância,
conciliações, mortes e até esquecimentos
que artificialmente devem ser detidos
numa paralisada iminência,
num embrião ou anteprojecto de gesto
imobilizado de súbito como um rígido boneco
no interior de uma parede de vidro.
E não se sabe se ali termina o homem,
nesse falso vazio transparente,
ou se o gesto necessário não se cumpre
porque em frente já não há ninguém.
O certo é que o mundo
não é mais que um montão de extremos incompletos,
de pontas frustradas
no escandaloso e simulado espaço
dos gestos que não existem.
E a morte não é outra coisa que a plenitude desse espaço,
a fusão desses gestos.

Roberto Juarroz

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