Ilustre Desconhecido: Bocage

Auto-Retrato


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meâo na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.




Retrato de Bocage pintado por Elói

Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal no dia 15 de Setembro de 1765. Filho de um Advogado sem recursos e de mãe francesa, cedo revelou a sua sensibilidade literária, que um ambiente familiar propício incentivou.

Aos 16 anos assentou praça no regimento de infantaria de Setúbal e aos 18 alistou-se na Marinha, tendo feito a sua aprendizagem em Lisboa e embarcado, posteriormente, para Goa, na qualidade de Oficial.

Na sua rota para a Índia passou pelo Rio de Janeiro e, nesta cidade, teve oportunidade de conhecer e de impressionar a sociedade brasileira.

Em Outubro de 1876 chegou, finalmente, ao Estado da Índia. A sua estadia neste território caracterizou-se por uma profunda desadaptação. O clima insalubre e a escassez cultural que aí presenciou, levaram a um descontentamento que retratou em alguns dos seus sonetos de carácter satírico.

Regressou a Lisboa em Agosto de 1790, com 25 anos. Aí dedica-se a uma vida desregrada entre os cafés e as tertúlias literárias. Frequentou os cafés que alimentavam as ideias da revolução francesa e satirizou a sociedade estagnada portuguesa.

Em 1791 publicou o seu primeiro livro de Rimas, ao qual se seguiram mais dois, respectivamente em 1798 e 1084.

No início da década de noventa aderiu à "Nova Arcádia", associação literária controlada por Pina Manique, onde era conhecido pelo pseudónimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastar-se, lançado ataques contundentes nos seus versos.

A sua vertente satírica levou-o à prisão do Limoeiro, acusado de crime de lesa-majestade. Em Fevereiro de 1798 foi entregue, por Pina Manique, ao Convento de S. Bento e, mais tarde, ao Hospício das Necessidades, para ser "reeducado".

Morre em 1805, com 40 anos, em Lisboa, perante a comoção da população em geral. Foi sepultado na Igreja das Mercês.

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