Cartas na mesa


Caro Serafim,


Há uma coisa de que não me podem acusar:
quando editor, sempre procurei ajudar os mais novos, quer publicando-os quer negando resolutamente editá-los. Em qualquer caso, fazendo uma opção crítica. Sendo sempre leal. Enganei-me, é certo, nalguns livros ou nalguns tipos. Mas pesando bem, o balanço é a meu favor; confesso: contra o que ainda outro dia me escreveu o Cesariny, continuo a considerar a minha obra de editor muito e muito acima das minhas larachas de escriba. E tentarei retomá-la em breve (venho agora da tipografia) até por uma razão: com raras excepções a edição portuguesa está a girar num desvairamento, aldrabice e confusão muito de arrepiar. E mau-gosto (literário, gráfico) nem se fala.
V. creio que pertence a uma outra geração (se é o rapaz que julgo). Aí pelos trinta, ou menos. Uma «décalage» de dez anos já conta nas aspirações e nas marcas do tempo; não importa é para os elos que a mútua sinceridade e aceitação crítica possam merecer. Quando atrás disse que V. exagerara no seu artigo, lamentava implicitamente que ele não me tivesse esclarecido sobre essa «décalage», não que esta seja intransponível, invencível, mas porque algo haverá que V. já não sinta, nem acate, como eu sinto e acato. Isto é: assim não aprendo consigo. Faça-me uma crítica mais feroz para a próxima. E para já, um abraço forte do
Luiz Pacheco.

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