Livro da Semana

Paulo Castilho, vencedor de quatro dos principais prémios literários nacionais, apresentou-nos no final de 2008 Letra e Música.

Depois de uma ausência de oito anos, o livro foi lançado envolto de uma imensa expectativa em torno de um dos mais destacados escritores portugueses da actualidade. Mas que dizer de Letra e Música?

Se na contracapa somos avisados para o seu “estilo cinematográfico, coloquial e directo”, a verdade é que ele se mantém constantemente ao longo do livro, tornando pouco perceptíveis as trocas de voz narrativa entre Filipe Omega Ferreira e Isabel Maria. Aliás, mesmo aquando da introdução de excertos do diário de Mónica Mendes (a personagem central sobre a qual se desenvolve toda a narrativa), a mudança de tom é pouco perceptível.

O tom coloquial carrega ainda consigo uma crítica mordaz e satírica à maneira de ser portuguesa, sobretudo através de notas de rodapé que vão sendo apresentadas amiúde no decorrer do livro. Contudo, a sátira cai por vezes no absurdo perdendo a fleuma britânica que o autor tenta impor no seu ritmo narrativo. Quando assim acontece, ouso mesmo lançar que Paulo Castilho cai no ridículo da crítica fácil e redutora, facilmente desiludindo o leitor.

Quando, ao fim de 200 páginas, se acabam as referências directas ao diário de Mónica Mendes e surge a necessidade de transferir a acção até aos Estados Unidos em busca de mais informação, o romance quase que conhece uma nova vida, motivando-nos para as 60 páginas finais. Aí, a escrita conhece um novo fulgor, num verdadeiro paralelo com o intensificar das vivências de Isabel Maria (sobrinha de Mónica Mendes) que acabam num quase fechar de círculo quando ela acaba por se envolver amorosamente com um antigo amante da tia.

A descrição da vida boémia de Mónica Mendes, que termina abruptamente com a sua morte num acidente de viação, acaba por ser uma referência indirecta à vida de Ana da Silva, vocalista da banda punk The Raincoats e prima do autor.

Mas no fundo, o tema principal do romance acaba por ser a procura constante de algo metafísico (a verdade, a identidade, a busca interior do eu) e que em muito se assemelha à grande temática do grande romance norte-americano da eterna procura e da fronteira.

De facto, o mais recente livro de Paulo Castilho tenta introduzir no imaginário português um dos mais fortes temas do romance norte-americano, convertendo-o enquanto algo comum a duas gerações completamente distintas.

Se o conseguiu? Cabe ao leitor decidir.


Disponível na sua biblioteca em 82 LP-3 CST


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