O TAMANHO DA FOME

Um jovem faminto chegou a uma grande cidade e foi logo atraído pelo cheiro intenso do pão quente que um padeiro confeccionava debaixo da sua tenda. Sabendo que não podia comer sem pagar e consciente de que não tinha alma de ladrão, afastou-se da tenda do padeiro e ficou a engendrar uma forma de conseguir matar a fome.
Ao fim de uns minutos, com a testa já perlada pelos suores frios que a fome de vários dias lhe provocava, o jovem aproximou-se do padeiro e perguntou-lhe:

- Quanto tenho eu de pagar para poder comer pão bastante para me encher o estômago?

O padeiro olhou para ele com atenção e, vendo que era magro, imaginou que não teria capacidade para comer muitos pães. Então respondeu-lhe com segurança:

- Dá-me uma moeda e meia e podes comer todo o pão que quiseres.

Ora acontece que uma moeda e meia era precisamente o dinheiro que o jovem caminhante faminto trazia na magra bolsa.
O padeiro, nas suas contas apressadas, imaginou que o rapaz não seria capaz de comer mais que dois pães inteiros. Se assim acontecesse, não seria mau o negócio. Quando ele já ia no sexto pão, aproximou-se dele, alarmado, e perguntou-lhe:

- Quantos pães imaginas que podes ainda comer, meu rapaz?

Ainda a braços com uma boa dose de fome por matar, o rapaz, banqueteando-se com o pão mole e quente, limitou a responder-lhe:

- Ao certo, não posso dizer, senhor padeiro, porque a minha fome é tão grande como a sua generosidade. ´


José Jorge Letria in Lendas e contos indianos

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