Poema da Semana

HOMEM AO MAR


Já não estou em minha casa.

Ando por Valparaíso.

Há muito que estava

A escrever poemas espantosos

E a preparar aulas espantosas.

Terminou a comédia:

Dentro de alguns minutos

Parto de bicicleta para Chillán.

Não fico nem mais um dia aqui.

Estou só à espera

Que me sequem um pouco as penas.

Se perguntarem por mim

Digam que ando pelo sul

E que não regressarei até ao mês que vem.

Digam que fui atacado pela varíola.

Atendam o telefone.

Que não ouvem o ruído do telefone?

Esse ruído maldito do telefone

Vai acabar por me enlouquecer!

Se perguntarem por mim

Podem dizer que me levaram preso.

Digam que fui a Chillán

Visitar a campa do meu pai.

Não trabalho nem mais um minuto.

Já chega o que fiz.

Que não chega tudo o que fiz?

Que diabo! Até quando

Querem que continue a fazer o ridículo?

Juro nunca mais escrever um verso.

Juro não mais resolver equações.

Acabou-se para sempre a coisa.

Bilhetes para Chillán!

Vou percorrer os lugares sagrados!

Nicanor Parra, trad. de Henrique Fialho
 
 
Prémio Cervantes 2011


A poesia de Nicanor Parra recebe o maior galardão de literatura em espanhol. Aos seus 97 anos, o poeta chileno continua a ser uma referência para os jovens.

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