Poema da Semana

Céu velho

Nasci num astro que esfriou.
A escolta de anjos em que vim, perdi-a.
Ao desprender-se a última asa fria
Meu destino de terra começou.

O salvado dos astros - gorou.
Aonde, aonde a minha origem ia?
Agora, em mim, a noite bebe o dia
Que meus altos cuidados devorou.

Se, bebendo-o, menino me tornasse
E, dando-me uma pena, ora aquecida,
Ao tal astro gelado me levasse?

Já sinto a aragem forte em minha batida,
Talvez da escolta de anjos. Volto a face:
Há lá anjo nenhum na minha vida!

Vitorino Nemésio, in "Poesia: 1935-1940"

Comentários