O rapaz do nariz comprido

O rapaz do nariz comprido metia sempre o nariz onde não era chamado. Durante as aulas, metia o nariz no recreio. Quando ia no autocarro, metia o nariz em cima das meninas do banco da frente. Em casa, metia o nariz nas algibeiras de toda a gente à procura de moedas para comprar pastilhas elásticas. Se o convidavam para um restaurante, metia logo o nariz na cozinha. Quando nadava debaixo de água, metia o nariz de fora, como um mastro espetado ao sol. Se, por acaso, se constipava, nunca usava lenço. Metia o nariz pela janela e o nariz chuvia plim, plim, plim no passeio da frente.
Até que um dia, no jardim zoológico, meteu o nariz na jaula dos leões. Ficou com o nariz tão pequeno como qualquer de nós. Por isso é que ele hoje já não mete o nariz onde não é chamado.

Luísa Ducla Soares

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