Livro da Semana


Grândola vila morena

de

Mercedes Guerreiro e Jean Lemaître


   "Este livro, ideia original de Gilles Martin da editora ADEN e da autoria de Mercedes Guerreiro e Jean Lemaître, escrito com saber e paixão e que tem contributos de muitos dos intervenientes no desencadear da conspiração que levou ao 25 de Abril, tem o mérito de nos revelar os «bastidores» dos dias que antecederam a madrugada dos Cravos. Quem decidiu que a «Grândola» seria o sinal para os militares marcharem sobre Lisboa e quem na Rádio Renascença estava incumbido de, com muita perícia e coragem, contornar a censura interna naquele momento.
   Hoje, 40 anos depois, «Grândola vila morena», continua a ouvir-se em todo o País. Quanto menos vemos realizados os ideais de Abril, mais a canção readquire a força telúrica que irmana homens e mulheres num abraço solidário de esperança, de revolta e de anseio de igualdade e de justiça para a humanidade. A mensagem e os ideais de Zeca Afonso ultrapassam fronteiras e muitos outros Povos, fazem desta canção a sua bandeira de luta por um mundo melhor."
Francisco Fanhais
Fernando Mão de Ferro 



"(...) 24 de Abril 1974, no relógio da Rádio Renascença toca a meia-noite. A tensão agudiza-se. O programa «LIMITE» começa. Como todas as noites, o censor, na sua cabine, ao lado do estúdio, está à espreita, pronto para intervir ao menor desvio.

(...) A contagem decrescente começou! Mais uns quantos segundos e já está...

(...) Ouve-se então a voz grave e bela de Leite Vasconcelos declamando «Grândola, Vila Morena»: «Terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena». Surge a seguir a canção de José Afonso, tão esperada: «Em cada esquina, um amigo», «Em cada rosto, igualdade».

Mas eis que irrompe no estúdio, como um bulldog, o agente da censura, nervoso, pronto a morder. Do seu lugar, ouviu a publicidade ser interrompida. O animal farejou algo de anormal. 

Manuel Tomaz e Carlos Albino não têm tempo de pensar nas dezenas de militares conspiradores agarrados, naquele instante, aos seus transístores, cheios de emoção, no minuto preciso em que a senha é dada, porque, no estúdio, a situação fica tensa com a intervenção intempestiva do censor.

(...) Albino e Tomaz já nem ouvem o fantoche vociferando ao seu lado. Ignoram completamente as ameaças. A senha passou na íntegra. A sua missão histórica foi cumprida e isso vale todo o ouro do mundo!"


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