O vilão que quer dominar o mundo

O vilão que quer dominar o mundo

[A começar por Alcobaça]

PEDRO: Hoje, em Mixórdia de Temáticas, uma entrevista a um indivíduo. Sr. Ilídio Ribeiro, o senhor é um indivíduo.

EU: Sou, sim. Tanto que, há dias, eu estava em casa e penso para mim: «Espera lá, eu sou um indivíduo.» E fui-me ver ao espalho e era mesmo.

PEDRO: O senhor tem uma ideia para salvar o país, não é?

EU: Sim, uma ideia para salvar o país dentro da minha área de actividade, que é a trafulhice. Eu sou uma pessoa que, pronto, é ruim. Sou, vá lá, um vilão.

VASCO: Um vilão?

EU: Exacto. Mesmo mau.

VASCO: É que não parece muito mau.

EU: Porque estou a disfarçar. Para vocês não se assustarem.

VANDA: Mas qual é a sua ideia para salvar o país?

EU: Ora bem, é dominar o mundo. Mas não é dominar o mundo de qualquer maneira. É dominar o mundo de forma sustentada. Porque as pessoas, às vezes, metem-se nisso de dominar o mundo com aventureirismos. E acabam por não dominar coisa nenhuma. Eu não vou dominar o mundo todo de uma vez, como é evidente. Eu primeiro vou dominar um terreno em Alcobaça. Já tenho o terreno debaixo de olho, não é um terreno muito grande, é um terreno de cerca de 700 metros quadrados, que é para eu me habituar a dominar, e depois então começar a dominar áreas maiores.

VANDA: Mas porquê em Alcobaça?

EU: Porque a Figueira da Foz tem muita humidade. Qual é o problema? É que o proprietário do terreno de Alcobaça sabe que eu quero o terreno para depois dominar o mundo. E então está-me a pedir um preço exorbitante. Mas tudo bem, que eu sei esperar.

NUNO: Sr. Ilídio, o senhor sempre foi vilão?

EU: Não, eu comecei como estucador. Só que isto está tão complicado, que eu pensei: «Bom, não tenho saídas profissionais na construção civil, mais vale ir dominar o mundo.» Mas eu tentei tudo. Tantas vezes que eu passei por casa do meu vizinho, e dizia: «Ouve lá, é preciso estucar aí alguma coisa?» E ele: «Não, pá. Já te disse, não me chateies.» Mas via-se que era porque não acreditava no meu trabalho. E então eu, um dia, apanhei-o a dormir e estuquei-lhe um pé. Quando ele acorda e se põe a andar, fractura a tíbia e o perónio. E diz ele: «Olha, Ilídio: eu, se te apanho, mato-te, mas que está aqui um bom trabalho de estucador, ai isso está.» Pronto, e ficámos amigos. Mas o meu grande sonho era a música.

NUNO: A música?

EU: Exacto. Cheguei a gravar um álbum chamado Quem és tu, linda morena? Era uma canção muito bonita. O poema contava a história de um homem que vê uma linda morena numa festa, e depois ao longo dos anos continua a encontrá-la em vários sítios, até que um dia ganha coragem e pergunta-lhe: «Que és tu, linda morena?» E diz ela: «Não, eu sou um gajo.» E ele: « Ah, desculpe.» É uma balada.

Ricardo Araújo Pereira, in "Mixórdia de Temáticas"

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