Conflitos livrescos

   "Naquela livraria, os e-books estavam sempre a arreliar os livros. «Nós somos o futuro», dizia um. «Podemos ser descarregados pela Net», acrescentava outro. «Ocupamos muito menos espaço», orgulhava-se um terceiro. Dia e noite, não paravam as provocações.
   Uns chatos, os e-books!
   Os livros, com a sabedoria de uma espécie com muitas centenas de anos, aguentavam em silêncio.    
   Até que aconteceu aquele acidente de que todos estão lembrados. No arranque da nova central de produção de energia, a reacção descontrolada com origem num efeito quântico negligenciado pelos projectistas provocou um impulso electromagnético que literalmente fritou tudo o que era equipamento electrónico num raio de muitos quilómetros.
   E agora, no silêncio da noite, sobre os cadáveres de e-readers, tablets e computadores espalhados pela livraria, é possível ouvir as risadinhas de satisfação dos livros...
   Quem ri no fim, ri melhor."
 
João Ventura, in "Antologia Fénix de Ficção Científica e Fantasia"

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