UM PROBLEMA DE FÉ

   "Era uma organização poderosíssima, num prédio de cinquenta andares, em pleno centro da grande cidade.
   Dizia-se que eram escritórios da mais moderna concepção arquitectónica, exemplarmente apetrechados para a concretização de projectos e também para o estudo e a prospecção de mercados dentro das mais diversas áreas da actividade.
   Milhares de arquivos, computadores, impressoras, fotocopiadoras: um mundo da mais evoluída tecnologia. E assim mesmo, largas centenas de funcionários, numa escala de valores também monumental, desde as simples secretárias aos chefes de departamento, aos gabinetes de aconselhamento técnico, jurídico e financeiro, partindo daí para as mais altas esferas da administração.
   Um verdadeiro universo em actividade.
   Cá em baixo, junto à entrada o porteiro - homem modestíssimo - afirmava com um sorriso sarcástico:
   - Sou pobre, mas não me deixo enganar: o patrão disto não existe!"
 
António Victorino d'Almeida, in "Os devoradores de livros"

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