Ecos do Natal

   "Pouca gente sabe que Gaspar, um dos três reis magos que levaram presentes para o recém-nascido Jesus, ficou para trás porque estava com sede e entrou numa taverna de Belém antes de seguir para a manjedoura. Depois de quatro ou cinco copos de vinho, Gaspar puxou conversa com uma prostituta e contou quem era o menino que acabara de nascer, e o que previam que ele faria quando crescesse, e o que ele e os outros reis magos traziam para a criança: Melquior, mirra; Baltasar, incenso, e ele, Gaspar, ouro.
   - Ouro?! - espantou-se a prostituta. - Mirra e incenso, tudo bem. Mas ouro?
   - Qual é o problema? - perguntou Gaspar.
   - O problema é que, com o ouro, quando crescer ele será um homem rico. Desprezará os pobres e levará uma vida de luxúria e devassidão.
   - Você acha?
   - É claro. Faça o seguinte: em vez do ouro, leve esta farinha amarela, que parece ouro, mas não é. E deixe o ouro verdadeiro comigo.
   E foi o que Gaspar fez. Saiu, cambaleando, da taverna, carregando a farinha amarela que parecia ouro, mas não era, e levou-a para a manjedoura, como presente para o menino. Que, sem o ouro, cresceu pobre, pregando justiça e caridade para os pobres, e morreu crucificado para lavar os pecados do mundo.
   E foi assim que uma prostituta de Belém salvou a humanidade. E, ainda por cima, ficou rica." 
 
Luis Fernando Veríssimo, in "As mentiras que as mulheres dizem"

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